Psicóloga em Porto Alegre/RS

Já fiz terapia antes, mas não funcionou comigo

O que pacientes refratários precisam saber
Muitas pessoas chegam ao consultório com a sensação de frustração: “já tentei terapia, mas não funcionou”. Esse sentimento pode gerar descrença, desânimo e até a ideia de que não existe saída para o sofrimento. No entanto, quando falamos de pacientes refratários – aqueles que não tiveram resposta satisfatória a tratamentos anteriores –, é importante compreender alguns aspectos técnicos e clínicos que ajudam a explicar o que pode ter acontecido.
1. A singularidade de cada história
A psicoterapia não é uma intervenção padronizada, mas um processo que precisa se adaptar à história, ao momento de vida e às necessidades de cada paciente. O que funcionou para alguém pode não ser eficaz para outra pessoa, justamente porque cada sujeito tem trajetórias, padrões de pensamento e experiências traumáticas distintas.
2. O tipo de abordagem faz diferença
Existem diversas linhas psicoterápicas, cada uma com sua lógica interna, ferramentas e objetivos. Conhecer as diferenças é essencial para compreender por que uma terapia pode não ter trazido os resultados esperados e por que outra pode ser mais eficaz.
  • Psicanálise e orientação psicanalítica

Focam no inconsciente, nos conflitos internos e nas marcas da infância. É um processo profundo e, muitas vezes, de longa duração, que busca ampliar a compreensão do sujeito sobre si mesmo.

  • Terapia Sistêmica

Observa o indivíduo dentro de seus contextos relacionais — família, casal, grupos. Parte da ideia de que os sintomas podem ser manifestações de padrões do sistema, e não apenas do indivíduo.

  • Abordagem Rogeriana ou Centrada na Pessoa

Valoriza a escuta empática, a aceitação incondicional e a autenticidade do terapeuta como forma de facilitar o crescimento pessoal.

  • Análise Junguiana

Busca integrar aspectos conscientes e inconscientes da psique por meio de símbolos, arquétipos e sonhos.

  • Gestalt-terapia

Trabalha a consciência do aqui e agora, enfatizando a responsabilidade pessoal e a integração de pensamentos, emoções e ações.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

Estruturada e objetiva, é focada em identificar e modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais. Fornece ferramentas práticas e eficazes para transtornos ansiosos, depressivos e psiquiátricos em geral.

  • EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares)
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e por diretrizes internacionais para o tratamento de traumas, atua diretamente na memória traumática. É frequentemente eficaz em pacientes refratários, justamente por trabalhar em níveis mais profundos de processamento.
3. O impacto dos traumas não resolvidos
Traumas não elaborados — mesmo antigos ou aparentemente “pequenos” — podem funcionar como bloqueios internos. Sem que o paciente perceba, o sofrimento continua a ser reativado em diferentes situações. Quando a terapia não acessa essas memórias ou não dispõe de recursos técnicos adequados para processá-las, o resultado tende a ser limitado.
4. A experiência terapêutica e as características do psicólogo
Além da abordagem escolhida, a experiência clínica do psicólogo e suas características pessoais influenciam de forma decisiva no processo terapêutico. Profissionais com longa trajetória, familiaridade com casos complexos e refratários, e domínio de abordagens baseadas em evidências têm maior repertório técnico para ajustar estratégias conforme a necessidade do paciente.
Também contam fatores como:
  • a capacidade de criar um ambiente de segurança e acolhimento;
  • a habilidade em desafiar o paciente de forma respeitosa e estruturada;
  • a consistência ética e a clareza na condução do processo.
Essas qualidades são muitas vezes o ponto de virada para quem já tentou terapia antes e não conseguiu avançar.
5. O papel da relação terapêutica
Outro fator crucial é a aliança terapêutica. A confiança, a clareza na comunicação e o alinhamento de expectativas entre paciente e psicólogo são fundamentais para que o processo avance. Muitas vezes, não é que “a terapia não funciona”, mas sim que a parceria estabelecida anteriormente não foi suficientemente sólida para sustentar o caminho da mudança.
6. O que esperar de uma nova tentativa
Se você se considera um paciente refratário, saiba que:
  • Isso não significa que não há solução, mas que talvez seja necessário outro método ou outro olhar clínico.
  • É essencial trabalhar com um profissional que tenha experiência em casos complexos e em técnicas específicas para tratamento de traumas e transtornos psiquiátricos.
  • O processo exige planejamento individualizado, metas claras e reavaliações contínuas.
Conclusão
“Já fiz terapia antes, mas não funcionou comigo” não é um ponto final. É um convite a compreender que cada tentativa é um passo no caminho do autoconhecimento e da cura, e que existem abordagens modernas, fundamentadas em ciência, capazes de oferecer resultados mesmo para quem já tentou de tudo.
Psicóloga Suleima Penz
CRP 07/14771

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